Gosto quando as pessoas se reinventam.
Pensando bem, escrevendo isso, questiono a minha colocação.
Reinventar-se é possível?
Ou o possível é encorajar-se para tirar de dentro o que sempre se quis, o que se é, mas ainda sem tanta certeza, o dar a cara a tapa, o enfrentar os caminhos mais difíceis, o desviar-se dos atalhos?
Sei que vejo muita gente conhecida e tenho contato com histórias de desconhecidos que apontam para isso – não apenas as buscas, mas o achar – de outro caminho.
Que faça mais sentido do que todos os outros, que realize, que abra novos mundos, conhecimentos, encantamentos.
Fico feliz com isso.
Algumas dessas trilhas eu conheço de perto. Acompanhei. E ver que as pessoas que a empreenderam cruzaram uma primeira linha de chegada é inspirador.
Os amigos adultos já graduados e que estão em um segundo curso – são inspiradores. Carmem, Kamila, Ulisses.
Os amigos adultos que se formaram recentemente na sua primeira graduação – são inspiradores. Gilberto, William.
A amiga que mesmo sendo mestre e tendo se graduado em uma área ainda tabu para as mulheres, a engenharia, fez um percurso longo até descobrir-se empreendedora – é inspiradora. Edith.
A jornalista que um dia resolveu ser fotógrafa e foi aprendendo na prática a ser grande e a se superar – é inspiradora. Jaciara.
A irmã que mesmo tendo a profissão oficial de odontóloga assumiu a sua preferência pela cozinha e o seu talento para temperos e doces, fez o curso de gastronomia e hoje faz coisas que ama para vender ou presentear – é inspiradora. Valéria.
A outra irmã que tem tantas facetas e sempre se entrega à busca por outras e ora se mostra desenhista, figurinista, artesã, atriz, musicista, cozinheira. Ora se apresenta como escritora (premiada) e aprende a fazer o que não sabe e faz tudo muito bem – é inspiradora. Vitória.
A antropóloga que sentia um chamado para a música e resolveu ouvi-lo, acolhê-lo e buscou, passo por passo, aprender, melhorar, se aprimorar, vencer medos e inseguranças, até tornar-se cantora profissional, professora de canto e estar prestes a gravar seu primeiro trabalho, todo de músicas próprias – é inspiradora. Thais.
O casal com empregos formais e concursos públicos que assumiu que a segunda-feira era sempre penosa porque não era ali que gostariam de colocar sua alma e sua força de trabalho e resolveu viver a segunda de forma a ajudar a outras pessoas a fazer o mesmo – é inspirador. Vanessa e Fabrício.
O músico que de tanto admirar o trabalho de outro e aprender com ele, decidiu dedicar boa parte de seu tempo para recriá-lo, transpondo guitarra para cavaquinho e música para emoção – é inspirador. Pedro.
E são tantas pessoas. E tantas histórias. Que já existem ou que estão sendo escritas bem nesse momento a partir das folhas em branco que são nossos quereres, nossos dias, nossa vida – tão incerta e da qual tanto queremos.
Eu daqui vou me inspirando com essa gente toda e, lentamente, tentando chegar lá e, o mais importante, tentando saber que lugar é esse a que chamo “lá”.
Nunca é tarde. Por mais que pareça.