Respeito muito as bancas de revista.
Principalmente depois de entrar no curso de Comunicação Social passei a frequentá-las mais. Como um compromisso sagrado. Uma obrigação. Uma disciplina da faculdade.
Eram tempos em que numa visita dessas a gente era surpreendida por um lançamento editorial – coisa cada vez mais rara.
Gostava de folhear as obras, sentir seu cheiro, perscrutar tipografia, analisar as capas. Fazer compras.
Até caí na esparrela de ter uma conta nas famosas ‘cadernetinhas’ de uma banca encostada no prédio da Câmara de Vereadores de Campina Grande e deixava lá boa parte do meu salário de estagiária.
Pensando bem, abusava das compras. Levava mensalmente todas aquelas coleções de aulas de língua (na época eu estudava quatro, inglês, francês, espanhol e alemão) e mais um monte de balangandãs porque já naquela época uma banca de revista dispunha dos produtos mais variados, tendência que continua até hoje.
Levava mensalmente novidades e títulos que nem me interessavam tanto, mas que eu julgava precisar conhecer – como uma futura jornalista.
A Banca de Orlando não pode ser esquecida quando se trata do assunto. Instalada no centro da cidade e com uma filial na Universidade Federal da Paraíba, a loja conseguia superar todas as outras do ramo com a diversidade digna de uma banca paulistana ou carioca, com as quais me encantei mais tarde.
Morando em Brasília fazia do passeio um hábito dos finais de semana. Passava na banca para comprar o jornal do dia e fazia uma viagem com os olhos e, inevitavelmente, com as mãos pelos exemplares que me interessavam.
Acho que a compra em bancas de revista inclui um ritual muito próprio, do qual o ato de tocar o objeto de desejo é indissociável.
É como a necessidade de provar uma roupa e se olhar no espelho da butique para comprovar se ficou boa, se precisa ser de um número a mais ou a menos. Se faz nosso feitio.
Acredito que só em exceções nos habilitamos a adquirir um artigo de vestuário sem antes saber se nos cai bem. Nem que comprovemos o engano mais tarde. Coisa até bem comum.
Foi assim de quase cair para trás quando li pela primeira vez, na banca da Asa Norte, minha escolhida, o fatídico aviso: Proibido folhear revistas.
Mas então para que aquelas mesas e cadeiras? Para que aquele enganador agrado para os clientes? Para que fingir amabilidade se a banca decidira trair sua própria matéria, a carne de que é feita? Para que sentar se seria proibido folhear as revistas, agora bem trancafiadas por plástico filme ou coisa que o valesse?
Não lembro se esbravejei nesse primeiro dia. Talvez não. Mas não me furtei a fazê-lo ainda essa semana. – Como assim ‘proibido folhear revistas’ numa banca de... revistas?
A dona do estabelecimento, impassível, respondeu de lá de onde me escutou. – É que o pessoal vem, lê a revista inteira e não compra nada. Tem gente que até abre os saquinhos. É muita cara de pau.
Eu discordei.
Acho que quem está na chuva é para se molhar. Ela teria que correr o risco. Como todos os vendedores.
Também nas bancas há as vezes em que “só estamos dando uma olhadinha”.