Eu gosto de conversar. Contar histórias compridas. Tem gente que nem termina de escutá-las. Tem gente que pede que eu chegue logo aos finalmentes - já não aguenta de ansiedade em saber o final.
Acho que aprendi a ser assim com papai, para quem o preâmbulo era imprescindível e indissociável do resto da narrativa e, principalmente, do seu final.
Trouxe o hábito para o meu trabalho e sempre fui boa em um tradicional “nariz de cera”. Até que os editores também demonstraram sua impaciência e, aos poucos, burilaram o meu estilo.
Nesse mundão todo tem uma pessoa que me escuta do começo ao fim. Por horas ou pelo tempo e vezes que eu precisar. Quando eu pergunto o que achou, muitas vezes me faz uma única pergunta: - Por que você está colocando sua energia nisso?
Tenho levado o questionamento para outros aspectos da minha vida em momentos em que a resposta seria decisiva para a minha forma de agir e reagir. De me apegar a ou deixar ir alguma coisa banal que teria o potencial de me desconstruir por um dia inteiro. Ou teria potencial nenhum para nada, dependendo da energia que eu colocasse nela.
É uma estratégia singela, mas eficaz de autoconhecimento. Serve como o contar até dez ou respirar três vezes. Serve como aquela parada necessária para reflexão entre uma atitude ou reação impensada ou desnecessária. Como o estalar de dedo para quem está hipnotizado. Nos faz voltar para o corpo.
A pergunta está sendo importante em um método próprio de largar o cigarro. A cada vontade, a cada desejo, a cada vez que o cigarro surge como uma salvação, eu tenho me perguntado: - Por que você está colocando sua energia nisso?
A resposta aponta sempre para uma necessidade que passa longe do cigarro. Portanto, fica claro o quanto ele estaria servindo de escape, de muleta, de gatilho para mais ansiedade – já que depois de um vem outro e outro.
Fumar não resolve a questão mal resolvida que nos leva a ele. Não lava roupa. Não aumenta conta no banco. Não devolve a saúde (pelo contrário). Não nos faz pontuais. Não responde a prova. Não apronta o trabalho.
Percebi que fumar implica em uma perda do tempo que deveríamos estar usando para resolver a coisa que nos aflige. Mas paralisados apenas fumamos. Nada resolvemos.
Portanto, nesses dias em que tento respirar e sentir – livre do fumo – tenho acolhido cada vontade de levar um cigarro à boca com a investigação do que deveria realmente fazer no lugar de tragá-lo.
As respostas são muitas e nunca apontam para a nicotina. Apontam para a vida prática que quer da gente coragem. Aponta para pulmões que merecem a chance de inspirar e expirar com menos mais de 4,7 mil substâncias tóxicas corpo adentro mais de vinte vezes ao dia.
Estou buscando novos espaços onde colocar minha energia.
Que assim seja!