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A VIDA É PRA VALER

Ariano Suassuna disse, em entrevista à Folha de São Paulo, que “a gente tem uma tendência a acreditar que não morre”. Segundo ele, isso seria uma bênção, já que “se a gente for pensar na morte como uma coisa fundamental, inevitável e próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo”.

A tendência a que ele se refere se choca com um lugar-comum sempre muito repetido entre os viventes e que preconiza ser a morte a única certeza da vida.

Eu fico com a tendência a acreditar que não morro. É mesmo muito complicado imaginar um motivo para a nossa batida de botas, nos ver deitados e de mãos postas dentro de um caixão e de lá, para debaixo de sete palmos com o nobre objetivo de virar pó, para compensar a dívida com o próprio pó, de onde teríamos vindo.

Também não é muito verossímil antecipar o chororô, a saudade, as homenagens, as dores e tentar antever quem irá senti-los e por quanto tempo.

Diante de tudo isso e de todas as superstições e artifícios que utilizamos para gastar as sete vidas, para enganar o destino, para receber nova chance, para nascer de novo, para ter vida longa, a desditosa sempre chega. Ninguém é poupado. Mesmo quem não tem onde cair morto.

No Samba da Bênção, de Vinicius e Baden, há uma advertência sobre o tema: Cuidado, companheiro! A vida é pra valer e não se engane não, tem uma só. Duas mesmo que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado. Com certidão passada em cartório do céu e assim mesmo assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida!

O médium Theprit Palee mesmo sendo tailandês podia ter conhecido os artistas brasileiros. Ou podia ter seguido o conselho sem nem mesmo conhecê-los. Mas encontrou-se com o pensamento de Suassuna e seguiu a tendência a acreditar que não morreria.

Fiando-se em um destino especialmente talhado para si, acreditando na própria capacidade de driblar a indesejável, juntou plateia para provar: era imortal.

Seus seguidores lhes deram um voto de confiança. Honraram o convite e foram servir de testemunhas oculares. Após a exitosa empreitada, certamente ele ganharia mais adeptos, mais dinheiro e fama. Adeus ao anonimato. Adeus ao sucesso restrito à Chiang Mai.

Dançando com uma espada em homenagem aos fantasmas dos seus ancestrais, não teve piedade da própria carne.

Theprit Palee, de apenas 25 anos, segundo contam, dizia que a espada não tinha força para penetrar seu peito. Desferiu golpes contra si mesmo e foi traído pela autoconfiança.

Ao invés de se partir ao meio, atingiu em cheio o coração que se julgava imune à morte, certo de que bateria para sempre.

A arma não correspondeu a suas expectativas. Seu corpo também não. Resta alguma esperança para sua alma. Mas nunca saberemos de certeza.

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