Não assisto televisão há meses. Mas algumas repercussões de polêmicas decorrentes de sua programação sempre chegam por outras vias, outros meios de comunicação.
Uma delas dá conta das críticas recebidas por uma integrante do MasterChef, Caroline Martins, por aparecer diante das câmeras com roupas repetidas. A explicação envolve um estilo de vida que ela mantinha, focado em custos excessivos e dívidas contraídas para cuidar da aparência, até a opção por um consumo responsável e consciente e o investimento em coisas que ela considerou serem importantes: boa comida, bons vinhos, viagens, momentos acolhedores com o marido e a família.
Em uma das respostas que ela deu aos críticos, afirma: "Me desprender do consumismo excessivo foi uma das minhas melhores decisões. Então, coleguinhas que me perguntam, a resposta é: Sim! Só tenho estas roupas! E, Sim! Só tenho duas botinhas! Com muito orgulho!", concluiu.
O percurso seguido por ela me remete ao meu próprio, que não tem sido fácil e nem curto. Há alguns anos estou me dedicando a repensar o consumo e a diminuir o número de coisas. Sempre lembro, nesse caso, dos versos de Chico César: Coisas são só coisas. Servem só pra tropeçar. Têm seu brilho no começo mas se viro pelo avesso, são fardos pra carregar”.
Meu primeiro choque foi com o número de brinquedos que minha filha tinha, ainda bem mais nova do que hoje, quando tem apenas seis anos. Na época, eu comprava as revistas voltadas à maternidade e diante das listas de “melhores brinquedos” ou “brinquedos do ano”, procurava adquirir todos. Invariavelmente de plástico, movidos à pilha e que brincavam por si.
Quando ela entrou em uma escola da pedagogia Waldorf comecei a aprender sobre o desserviço que era aquilo e a me encantar com o poder de tocos de madeira, bonecos sem rosto ou gênero definido, lã, algodão, capas para o aprendizado ou as descobertas por meio do brincar.
Entendi o poder da criatividade e o quanto eu estava podando as possibilidades dela, acreditando estar fazendo justamente o contrário.
Depois de doações e mais doações, repasses a amigos e a aniversariantes, ainda era enorme a montanha de coisas. E essa montanha continua. Nos brinquedos nem tanto. Mas nas minhas coisas de adulto, agora meu foco. A despeito de minhas tentativas de fazê-la diminuir, de estar construindo nova maneira de pensar, de priorizar coisas diferentes.
Há uns dois anos passei por uma lavagem cerebral ao ler a publicação A mágica da Arrumação, de Marie Kondo. De lá para cá, tenho me esforçado em “aplicar a japonesa” na minha vida, ainda sem ter chegado ao resultado ideal. Meu alento é considerar que isso é um processo e que ele não parou e ainda vai chegar onde quero, envolvendo outros diversos caminhos de autoconhecimento e de evoluções internas.
Na época do livro, doei praticamente todas as minhas roupas. As que ficaram, de lá para cá praticamente não ganharam atualização ou reforço, por diversos motivos. Parafraseando a Caroline, “então, coleguinhas que me perguntam, a resposta é: Sim! Só tenho estas roupas!”.
E a isso também chamo liberdade.