Chora, disfarça e chora.
Aqui nessa terra chora-se demais.
Aqui é permitido que homens demonstrem os seus sentimentos.
E chorem.
E se tornem chorões.
E são tantos – e usam tantos instrumentos.
As mulheres nem disfarçam.
A elas nem sempre foi dada a oportunidade de chorar.
Mas como choraram.
Tímidas, escondidas, imiscuídas em espaços que não lhes pertenciam.
Será?
Lencinho na mão. Enxugando as lágrimas por serem apartadas.
Mas nunca vencidas.
Firmes em seus propósitos.
Começaram sendo Chiquinhas e hoje são incontáveis e chamadas por todos os nomes.
Os homens...
Começaram sendo Alfredos. Foram Nazareth. Jacob.
Foram do bandolim. E cavaquinho. Pandeiro. Violões.
Chegaram a Hamiltons. A tons. Incontáveis.
Começaram sendo carinhosos, românticos que são.
Mas passaram por espinha de peixe, André de sapato novo e até doce de coco.
E a gente quando passa em qualquer lugar escuta o chororô, os chorões, o chorinho.
Está nas feiras, nos bares, nos bancos de praça, nas bancas de revista, na estação rodoviária, nos lares, restaurantes e quiosques.
Está nas escolas, nos Clubes de Choro.
Circula.
Porque é de circular.
É roda.
Pra brincar mesmo.
De mãos dadas. Atenção ao que o outro faz.
Improviso. Solo. Virtuosismo.
Coisa boa de se ouvir.
Com letra, sem letra.
Rápido como Ademilde. Lento nos passos de quem quiser ir.
É coisa de idoso. De moleque. De guri.
É coisa boa de se ouvir.
Chora, disfarça e chora...
Brasília.
E todos os chorões e todos os choros que foram, vieram, são.
E os que ainda estão por vir.