Dona Maria de Lourdes é pessoa simples, do povo.
É daquele tipo que chamam invisibilizado.
As pessoas passam por ela. Nem todo mundo a vê.
Está ali entre seus pares. De uniforme verde e alaranjado.
Varre. Cata. O que cada um deixou pelo caminho. Vez em quando carrega um pincel e um balde de tinta.
Precisa iluminar. Não deixar que apaguem os muros. Que pintem tudo de cinza.
Dona Maria de Lourdes passa cal no meio fio.
Pinta de branco a beirada do chão para torná-lo visível.
Ela mesma....
É daquele tipo que chamam invisibilizado.
Mas que nada.
Dona Maria de Lourdes é mulher.
Ela se vê.
Sabe a força que tem.
No trabalho faz o que deve fazer.
Concentrada. Esforçada. Não tem fiscal que tenha uma palavra errada para lhe dizer.
Basta chegar em casa, ela é Lourdinha, querida, esperada.
Se transforma em outras porque é capaz de ser mil.
Faz comida, dá carinho, tudo de fio a pavio.
É a alegria da rua. Fala alto. Come churrasco. Passa batom.
Pinta a unha, o olho, pinta de alegria e esperança todos os que passem pelo seu caminho.
Dona Maria de Lourdes não passa em branco.
É arco-íris.
É verde esperança.
É azul celestial.
Aliás, esse é sem tom preferido.
Desde 2014 ela é a responsável por pintar o céu de Brasília.
O mesmo que chamam de mar.
O mesmo que inspiram os casais a amar.
Com seu balde, sua tinta, Dona Maria de Lourdes só sabe espalhar.
Espalhar tinta em tudo o que opaco está.
Ô mulher danada, ela.
Só podia ser Maria.
Lata de tinta na cabeça.
La vai ela....
Foto: Janine Moraes