Quando a gente vai à Europa pela primeira vez, muita coisa fica mexida cá dentro.
Eu fui há muitos anos e nunca mais voltei.
Lembro-me que em meio aos relatos sobre as impressões mais marcantes, foram recorrentes as descrições sobre a forma como os direitos que por aqui são tão negligenciados, lá são tão resguardados.
Outra coisa que gostei foi ter que cumprimentar as pessoas na rua. Coisa obrigatória naquela parte da Suíça, a germânica.
Então, naquele verão, olhei nos olhos e disse: Grüezi! incontáveis vezes.
Assim, me sentia menos turista, menos isolada, menos conhecedora de pouco mais de cinco pessoas naquele universo todo.
Essa coisa de cumprimentar os outros me chama mesmo a atenção.
Quando meu pai, o alagoano Manoel Barbosa, recebeu o título de Cidadão Paraibano, concedido pela Assembleia Legislativa do Estado, fizemos um livro de crônicas sobre ele. Cada filho assinou um texto e nenhum leu o do outro até que estivessem todos compilados e impressos.
Houve alguns relatos coincidentes, algumas memórias compartilhadas que se repetiram individualmente. Papai não gostou de algumas delas. Como as falas dos mais velhos narrando sovas com uma tal famosa palmatória. Papai quis negar-lhe a existência. Mas não era possível. Ela estava viva para muitos dos meus irmãos. O tempo passou. Não se falou mais nisso.
Nas folhas que me couberam falei sobre o hábito que ele tinha de cumprimentar a todos indistintamente – conhecidos ou desconhecidos.
Gostava de andar com ele cedo da manhã porque gostava também daquilo: Bom dia mesmo – dizia. Ou, você vai bem obrigado ou bem por que quer? Como a gente faz com as crianças, ele me dava uns cutucões para que eu fizesse o mesmo. Falasse com conhecidos ou desconhecidos.
Tenho experimentado fazer isso no meu ambiente de trabalho. Há uma identidade entre nós e acho que é isso que torna o cumprimento um hábito. O que nos faz parte daquele todo, imagino, é o uso de um crachá. Então, os olhos de todos se procuram e, se não saem palavras cordiais, sai ao menos um sorriso. Um meneio de cabeça ou algo que o valha.
O problema é que quando saio de lá, quero dizer oi e bom dia a todo mundo que encontro. Mas lembro-me que isso não é lá muito correto ou bem-vindo. Recolho-me. Quando sou traída por mim mesma e sapeco um cumprimento a um desconhecido, costumo receber uma solene indiferença ou um retumbante silêncio em troca.
Tenho visto outras pessoas fazendo o mesmo relato. O de dar bom dia e encontrar um grande vácuo como resposta. Essas pessoas disseram que não iam desistir. Que estavam fazendo sua parte, que um dia, quem sabe, pela insistência, receberiam resposta adequada.
Também diziam se sentir tranquilas e de bem com a consciência. Faziam a sua parte.
Torço para que os planos deem certo.
Que eles recebam suas esperadas respostas.
E que a vida se transforme em um grande quintal, onde a gente não se leve tão a sério. Onde sorrir, olhar e cumprimentar sejam atos leves, naturais e naturalizados.
Bom dia!