Quando parecia não haver mais esperança, eis que esbarrou em um folheto. Foi coisa mesmo de destino.
Não de coincidência – até ali fora levada a crer que não existia isso.
Mas no pedaço de papel que se fixou em seu corpo, espantado pela rajada de vento, estava escrito: “Trago seu amor de volta em três dias”.
Não acreditava também nisso. Por que esse número? Qual a razão dessa quantidade de dias – poucos, na verdade, para uma investida tão rigorosa?
Aquele amor, se é que era, se é que houvera sido, já havia partido há tanto tempo. Deixando até dúvida sobre sua existência.
Aquele amor deixara um sem-número de dores e vazios e raivas e vontades e desejos e calores e quenturas e líquidos e sequidão. Deixara ódio. Deixara uma solidão sem precedentes e sem nome, porque aquilo era pior que solidão. Mas não conhecia o que podia ser.
Então, precisariam de três dias para trazer de volta o que levara um infinito sendo vivido e já há séculos partira?
Queria mesmo ver.
Pensou ter decorado o número. Repetido mentalmente tanto quanto possível, antes que amassasse o papel jornal, mais amarelado do que de costume e o jogasse na sarjeta.
Não merecia sequer uma lata de lixo. Foi para o chão.
Mas e o número? Seria capaz de reproduzi-lo?
Batucou o aparelho. Titubeou. Tentou de novo.
Inexistente.
Voltou ao lugar. Procurou algum indício do panfleto atirado na rua. Gostaria até de achar outro. Mas o tempo estava parado. As árvores não se mexiam. As saias não levantavam. Os papeis amassados não esbarravam nos corpos dos passantes.
Continuou andando a esmo. Testando o destino. Confrontando as coincidências.
Nada.
Aquele amor deixara um sem-número de dores e vazios e raivas e vontades e desejos e calores e quenturas e líquidos e sequidão. Deixara ódio. Deixara uma solidão sem precedentes e sem nome, porque aquilo era pior que solidão. Mas não conhecia o que podia ser.
A indefinição lhe roubava toda a energia.
Sentia-se como um saco vazio. Não parava em pé. Não parava. Não se aquietava.
Foi quando em lugar oposto àquele quase bateu a cabeça.
Olhava para baixo quando foi surpreendida por uma coluna ou um poste que parecia ter surgido de repente.
Com o susto deu um impulso para trás.
Foi quando conseguiu ler, ajudada pelo distanciamento, em um cartaz desgastado:
Posso ser seu amor por três dias.
Logo abaixo, um número de telefone.
Intrigada e com um sorriso cúmplice no canto da boca, discou.
Dali mesmo. Para não cometer o mesmo erro. O do esquecimento.
Ao alô, seguiu-se um encontro marcado.
Estão juntos há três anos.