Tenho lido muito sobre a escuta.
A matéria de capa da Revista Vida Simples deste mês tem o título: Menos grito, mais silêncio.
Silêncio e fala, silêncio e palavra, silêncio e seus opostos têm afinada relação.
Eu considerava meu método de diálogo o único possível. O outro fala, você escuta a frase
inteira já pensando no que vai responder ou na experiência parecida que você tem para narrar ou na suposta sabedoria própria que você tem para ofertar.
Vi que estava enganada. O verdadeiro diálogo, compreendi, pode não envolver resposta
alguma. Apenas o ouvir. Ouvir com integridade de presença e de intenção. Estando com o
pensamento voltado unicamente para o que a pessoa está dizendo e não ocupando os
neurônios na preparação de uma resposta, uma réplica, uma tréplica, um conselho.
Comecei a fazer o exercício e me surpreendi com a riqueza que é isso. Acho que traz mais
benefícios para os interlocutores. Nem sempre quem fala precisa de resposta. Mas precisa de ouvido atento – sem dispersão, sem olhos procurando ocupação, sem interrupções vindas daquela olhadinha rápida nas mensagens do celular.
Não fosse falar algo tão poderoso não haveria a existência da psicoterapia. Mas a escuta
qualificada não é a única capaz de clarear nossos próprios pensamentos, insights e
entendimentos.
Muitas vezes, conversar com alguém na rua, no trabalho, na família ou até mesmo sozinho, como muita gente faz, é capaz de operar pequenos milagres internos.
Foi numa conversa, na verdade uma entrevista, que o músico teve a oportunidade de revisitar sua vida e perceber que o futuro havia chegado – do jeitinho que sonhara e, mais, trazendo além do que vislumbrara quando era apenas o adolescente que começara a ter aulas.
Foi respondendo aos questionamentos que pôde parar, estancar a correria e encadear no
tempo sua trajetória de vida.
Aquilo tudo o emocionou. E trouxe o mais puro e intenso sentimento de gratidão.
Chorou. Arrepiou-se.
Enumerou tantas coisas boas e bonitas que teve a oportunidade de conquistar. E olha que não passava de um quase moleque, mesmo agora que o futuro era o presente. Portanto, muitas portas se abririam, muitas surpresas, muitos frutos do que vinha plantando diuturnamente desde então, ainda estão por vir.
Isso o encanta. Sabe que lutou por cada passo. Sabe o que teve que aprender, do que abriu mão, do que não abriu – mesmo por todo o dinheiro desse mundo. Sabe que sua carreira foi planejada mesmo que não parecesse.
Quando começou não podia imaginar que ficaria do tamanho ou maior do que os seus mestres de início de caminhada. Como podia supor que dali há alguns anos estaria com eles, de igual para igual, dividindo o mesmo palco, a mesma roda, a mesma mesa, o mesmo patamar no caminho da música?
Como poderia se ver arranjando e dirigindo os gigantes que olhava lá de baixo quando
menino?
Agora era ele o professor. O guia de tantos alunos que, como ele mesmo fez, lamentam por considerar que nunca chegarão naquele nível de excelência.
Ele sabe que não é bem assim. E que muitos encontros se darão. Sabe que o futuro vai chegar para os aprendizes também. E sente-se feliz por poder conduzir alguns deles.