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SÁBADO

Eu ainda estava com os passos lentos e preguiçosos, o olhar idem, encandeada pelo sol forte, sem saber bem o que estava fazendo por ali, quando uma cena me lembrou: era sábado.

A cena era a seguinte: Enxerguei, ainda de longe, quando um homem de meia idade, boné na cabeça, camiseta de time, dava um gole num copo de cerveja, que parecia bem gelada. Enquanto bebia, fechou os olhos – em sinal de reverência, gratidão, júbilo. Parecia degustar a gelada como quem sabia o que tinha passado para chegar àquele momento.

É uma coisa que gosto de ver, essa. Ainda mais que não passavam das dez e poucas da manhã. A mesa dele estava cheia. Todos faziam a mesma coisa. Conversavam animadamente e bebiam – nem bem tinha chegado a hora oficial de “abertura dos trabalhos”, que uns dizem ser meio dia. Mas no sábado, deve ser qualquer hora.

E foi então que todos os comportamentos se adequaram ao dia da semana. As mulheres com vestidos floridos ou shorts bem cortados. Os homens lotando as barbearias. As crianças circulando em seus carrinhos próprios pilotados por pais ou responsáveis, exibindo um ar de final de semana no rosto. No sebo de vinis uma pequena multidão passando bolacha por bolacha em busca de um “achado”.

Gente cantarolando. Gente fotografando. Gente andando de bicicleta ou prendendo a sua no carro. Gente com roupas esportivas. Gente passeando com cachorro. Gente se dirigindo ao parque. Gente já no parque. Gente fazendo caminhadas rápidas ou lentas.

Tem uma pitada de pressa no sábado. É um dia só para tanta coisa que fica resguardada para a sua chegada.

É o conserto do liquidificador. É uma passada na sapataria. É a compra do jornal e de uma revista na banca. É conhecer a loja nova. É aproveitar uma liquidação. E é, claro, retocar as mechas, fazer as unhas, passar uma chapinha nos fios recém-escovados (sem perder o diz-que-diz típico do lugar).

É fazer tudo isso antes do meio dia. Horário em que alguns estabelecimentos costumam fechar. Nem bem eles cerram as portas, abre-se nos seus funcionários aquele estado de euforia provocado pelos sábados.

É só estar nas lojas da W3 nesse horário para constatar. As pessoas saem do trabalho e vão para bares e restaurantes dos arredores, aproveitar um pouco a vida, comemorar o fechamento do ciclo de trabalho semanal.

Naquele dia, a magnitude de um sábado reluziu para mim. Ela nunca tinha ficado tão clara. Aquele parecia ser mais sábado do que qualquer outro. Não sei bem a razão. Talvez por eu mesma estar na rua, mesmo que fosse para executar uma missão pontual, que eu estendi e prolonguei até ter visto o suficiente do sábado.

Lembrei que o dia é tema de poemas, de canções, vide Vinicius de Moraes (Dia da criação) e Martinho da Vila (Amanhã é sábado). Que as pessoas o levam muito a sério. E que “todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”.

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