Hoje é 15 de março. Data que acho esteticamente bonita. 15/03.
Foi nesse 15 que nasci, segundo a certidão de nascimento, às 2h da matina.
É com esses dados que faço meu mapa astral, mas a gente sabe que nos antigamentes essas informações não eram confiáveis. Meu pai mesmo, pelo documento, nasceu um ano antes do que realmente veio ao mundo.
Mas isso é coisa de quem precisava se mostrar mais velho para poder trabalhar. É coisa também de um tempo em que as crianças tardavam a ser registradas. Ou não eram. Coisas não tão distantes no tempo assim.
Aconteciam ainda quase agorinha. Foram desnudadas por reportagem histórica de Marcelo Canellas e depois algumas políticas públicas tentaram pôr fim ao absurdo até então “desconhecido”.
Hoje é 15 de março. E é também o aniversário do meu irmão Robson. Somos tantos filhos que houve até coincidência no nascer. Mas ele é mais velho. Por isso mesmo sempre teve primazia nas comemorações. Eu pegava as caronas. E ficava desagradada com isso.
Agora me recordo que posso estar sendo injusta. Vejo na memória imagens de festas na escola, no Instituto Domingos Sávio. Teve uma em que ganhei um relógio de seis pulseiras. Ou mais. Ou menos. Não sei. Não devo tê-lo usado muito. É um hábito que até hoje não tenho, esse de usar relógio de pulso.
No dia em que teríamos uma festa em casa e mamãe estava diretamente envolvida nos preparativos (era uma mulher muito atarefada e acredito que eu me ressentia disso), foi internado Tancredo Neves e levou junto, além da esperança na volta da democracia, minha paz.
Passamos a manhã inteira andando no Centro da cidade e produzimos pouco. A cada passo uma parada para comentar os novos e tristes desdobramentos políticos do país. Naquela manhã, minha mãe, política e de fala farta e eloquente, estava ainda mais afiada.
Mas a festa saiu. Tenho as fotos. Vestia um conjunto de blusa solta e bermudão de tecido meio armado, meio grosso, a cor, verde piscina. O cabelo repartido ao meio. No meio da boca dois dentões para fora. Me perseguiram por anos. Me fizeram usar aparelho ortodôntico por seis. Até hoje permanecem mais para fora do que deveriam e me desafiam. Eu sorria e fazia poses.
O bolo era redondo e tinha um rosto. Minha tia fez, lembro. Eu estava orgulhosa. Mas só hoje vejo que os dentes feitos com Mentex foram colocados de uma forma que a menina de massa podia ser eu mesma, uma versão paraibana de Mônica do Maurício.
Hoje é 15 de março. Na nossa família não pode faltar bolo em dias assim, de aniversário. E levei isso ao pé da letra anos a fio. Em Brasília, fiquei chocada ao descobrir que as pessoas eram meio indiferentes a existência dele, das velas, dos parabéns, em comemorações próprias.
Virei uma militante do bolo. Levei muitos (incluindo o duplo sentido, para não perder a piada) e sempre preguei sobre sua importância simbólica.
Nos encontros que fiz na cidade para festejar a nova idade, não podiam faltar música e bolo. Eu também usei de me vestir com uma cor que o ano pedia (internamente) e decorava tudo com ela. Já tive comemorações amarelas, verdes, azuis.
Hoje é 15 de março e há algum tempo não me dedico à data com tanta efusão. Tenho ficado mais contida e discreta. Sem as expectativas que tinha na adolescência – que era dia de revoluções e de acontecer tudo o que não tinha acontecido até então.
Hoje é 15 de março. Sinto-me feliz e agradecida pelo percurso. Continuo querendo bolo e surpresas infantis.
Quero motivos para sorrir neste 15 de março.