A estudante sabe muita coisa já. O que continua sem resposta é como conseguir alguém para amar. É só o que ela quer da vida, fora defender seu trabalho acadêmico. Será que é tão difícil assim? Enfatiza a questão com gestos contundentes nas mãos.
Tem sido difícil assim. Há um ano ou mais está sozinha. Não consegue entender a razão da imposição do destino, se é justamente o contrário o que ela deseja.
Alguém para beijar, dar carinho, dormir de conchinha. O último cara com quem fez tudo isso sumiu no mundo sem querer dar tchau. O próximo que veio, um bom tempo depois, demonstrou que ficaria pouco.
E ela continua se fazendo a pergunta. Se consumindo e consumando com prováveis respostas. Não é bonita, não é interessante, não sabe dançar, não é simpática, não conhece muita gente, é chegada em momentos de quietude e isolamento – parece uma receita infalível para a solidão – viver só, morrer só. Ter filhos só.
A estudante, jovem ainda, colocou na cabeça que nunca aparecerá um homem disposto a lhe deixar um filho no ventre. E que o rebento mesmo assim será feito.
Ela até gosta de alardear sua solução pragmática para a questão – uma clínica de fertilização. Mas dentro dos olhos demonstra uma dor lancinante ante essa possibilidade.
Ninguém dava crédito à profecia. Mas você, tão jovem? Para ela, a juventude havia ido há muito. Talvez nunca tivesse vindo. Já nascera velha. Obrigada a sintonizar seus neurônios a um mundo muito acima do seu. Quando criança, já era adulta. Adulta agora, se sentia curvada pelo tempo e pela falta de amor.
Sobre o amor, sabia o que lera. Havia tirado suas conclusões. Feito suas análises. Colecionado os ensinamentos mais preciosos.
‘Se o amor existe...deve ser livre e não pode existir quando há sofrimento. Confundimos amor com sofrimento e necessidade. O sofrimento é um sentimento pessoal, do indivíduo. Além disso, na solidão pode se viver tranquilamente, consertando os apegos psicológicos criados pelo sofrimento’.
O sábio falou. E daí? Não acredita nessa de que na solidão se pode viver tranquilamente. Mentira. Mentira de sábio que não fode, que fica bem na abstinência, que está impassível a tudo. Inatingível. Mentira dela também.
Ela, ela tem suas necessidades. É mortal. É humana.
Umas vezes fustigada, noutras redimida, ocupa os espaços e o tempo com o que há de mais interessante. Com coisas de que gosta mesmo – lê, estuda, faz uma comidinha, telefona para a mãe, ouve música, assiste a filmes.
Mas o tempo não ocupa espaço. Nem é afável.
Demorarei na solidão não sei quanto tempo – avisa.
No fundo não gosto da solidão que tanto defendo – responde a si mesma.